17 de novembro de 2009

"O dia da Consciência Negra veio para fortalecer nossa identidade"

naiara
Naiara Rodrigues Silveira, filha única de Oliveira Silveira



Em 1971, um dos fundadores do Grupo Palmares declarava o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, como a data máxima da comunidade negra brasileira. Este idealizador era Oliveira Silveira, pesquisador, poeta e historiador gaúcho. Sete anos depois, o 20 de novembro foi elevado ao Dia Nacional da Consciência Negra.

Foi neste ambiente de ativismo e contestação que Naiara Rodrigues Silveira, 40 anos, cresceu. Filha de Oliveira Silveira, o engajamento ao Movimento Negro foi uma conseqüência natural. Professora e supervisora de uma escola estadual, ela também é secretária geral da Associação Negra de Cultura (ANdC), fundada por seu pai em 1987.

Naiara já foi muito atuante no MN e, com a morte do pai em janeiro deste ano, teve sua atenção voltada para a organização do acervo de sua obra. O livro de Poemas de Oliveira Silveira, que será lançado na sexta-feira (20/11/2009), também contou com a participação de Naiara em sua elaboração.

Imprensa SJDS - Por que o movimento negro gaúcho resolveu buscar uma nova data para reverenciar a luta dos negros contra o regime escravagista, em substituição ao 13 de maio?

Naiara Rodrigues Silveira - O 13 de maio representa para a população negra um grande engodo. Uma lei que trouxe a liberdade de direito, mas não de fato. Os negros chegaram ao Brasil "seqüestrados" da África, sem absolutamente nada. Aqui, construíram o país. Com o advento da abolição da escravatura, foram "despejados", sem direito a nada (educação, propriedade, trabalho, etc.), enquanto os imigrantes receberam vários incentivos para virem para o Brasil: terras, gado, escola, entre outros. Portanto, essa data não trouxe dignidade ao povo negro.

Imprensa SJDS - Qual a importância de comemorar o Dia da Consciência Negra?

Naiara Rodrigues Silveira - Ser negro é muito além do tom de pele. É um jeito de ser, de viver e de entender a vida. Ter consciência de tudo isso nem sempre é um ato fácil em uma sociedade racista como a nossa. É muito difícil ser negro e assumir a negritude. É uma questão de auto-estima. Trezentos anos de escravidão dizendo que "tu não és gente" não poderia dar em outra coisa.

O Dia da Consciência Negra veio exatamente para marcar uma tomada de consciência de quem nós somos, através do fortalecimento de nossa identidade. Ainda não temos muito para comemorar, embora o Movimento Negro Gaúcho seja um dos mais atuantes do país. Temos muito a conquistar no campo da eqüidade e igualdade de oportunidades. Enquanto não chegamos lá, devemos comemorar o Dia da Consciência Negra, levando nossa resistência, mas também nossa cultura, que é a base da cultura brasileira.

Foi através da pesquisa do Grupo Palmares, onde militava Oliveira Silveira, o idealizador do "20 de Novembro", que essa data foi escolhida por ser o possível dia de morte de Zumbi dos Palmares. Nesta data comemoramos não a liberdade, mas a tomada de consciência de nosso povo sobre seu valor e sua contribuição a este país. Hoje, repetimos isso em memória de nossos ancestrais.

Imprensa SJDS - Você acredita que as comunidades negras aqui do Estado conseguiram preservar as suas características culturais, como a religião, por exemplo?

Naiara Rodrigues Silveira - Certamente, embora com muita dificuldade. Dizem os estudiosos que temos peculiaridades nos cultos africanos daqui que não são encontradas em outras partes do país. Temos duas grandes vertentes: uma definida como Angola Conguense e outra Yorubá ou Gegê Nagô, influenciada pela Nigéria e, em menor escala, pelo Benin. A presença destas religiões é ostensiva em todo o Estado. O Rio Grande do Sul possui o maior número de terreiros do Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Porém, acredito que nossa religião esteja ameaçada pela intolerância de algumas igrejas, principalmente pelas neo-pentecostais. A comunidade negra religiosa resiste bravamente, com lideranças de expressão no cenário religioso nacional. Os negros cultores destas religiões, que ainda mantém a autenticidade em suas atitudes e moradias, devem ser protegidos desta ameaça, assim como toda cultura afro-gaúcha.

Imprensa SJDS - Como você vê a figura do negro na identidade do gaúcho?

Naiara Rodrigues Silveira - A população negra no Brasil é de 48%, conforme pesquisa de auto-declaração do IBGE, mas, na verdade, sabemos que é bem maior. No Estado, ela chega a aproximadamente 16%, mas sua influência está emaranhada em todos os segmentos.

A figura do negro sempre foi vista como "menor" na construção da identidade do gaúcho. Isso se deve a uma postura preconceituosa em que somente as culturas alemãs, italianas, polonesas e outras, de origem branca, são consideradas como formadoras da comunidade gaúcha. Hoje sabemos da influência do negro em toda cultura sulista.

Ainda temos muito que caminhar e isso começa na escola, que ainda não conta a história do negro no RS e de seus heróis. Por isso, desejamos a implementação da lei que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira".

Imprensa SJDS - Como você avalia a atuação do Movimento Negro hoje e a inserção do negro na sociedade brasileira?

Naiara Rodrigues Silveira - O Movimento Negro vem crescendo em número, organização e ação. Nas décadas de 60 e 70, o movimento era de denúncia e resistência; hoje, ele é também propositivo. Graças a ele, houve avanços significativos em diversas áreas e temos adquirido, embora timidamente, a visibilidade e a inserção na sociedade. A conquista das ações afirmativas é uma delas. A luta não pára, irá continuar até que as diferenças se unam e não separem. Ser diferente sim, mas com direitos iguais.

www.sjds.rs.gov.br

8 Comments:

Blogger Unknown said...

Revisando a história negra revolucionariamente
http://www.martinsbenperrusi.com/crbst_41.html
http://www.martinsbenperrusi.com/crbst_6.html
Portal: http://www.martinsbenperrusi.com

7:02 PM  
Blogger Gisele Borges said...

Oi Sátira, sou publicitária e estudante de ciência sociais na UFRGS, estou fazendo um trabalho antropológico sobre a história da comunidade negra de Porto Alegre e gostaria de conversar com você, pois queria um depoimento seu para o meu trabalho. Se puder entrar em contato o meu e-mail é gisebrges@gmail.com

4:39 PM  
Blogger Adomair da Silva (Adomair O. Ogunbiyi) said...

Adorei ter notícias sobre a filha no nosso saudoso Oliveira Silveira,contudo, senti a ausência do nome da mãe.

5:31 AM  
Blogger Jama Libya said...

A meGaLOBO RACISTA? A violência do preconceito racial no Brasil. O personagem Adelaide do Programa Zorra Total, Rede Globo do ator Rodrigo Sant'Anna para a Globo e os judeus é engraçado, mas é desgraça para nós negros afros indígenas descendentes, se nossas crianças não tivessem sendo chamadas de Adelaidinha ou filha, neta e sobrinha da ADELAIDE no pior dos sentidos, é BULLIYING infeliz e cruel criado nos laboratórios racistas do PROJAC (abreviatura de Projeto Jacarepaguá, como é conhecida a Central Globo de Produção) é o centro de produção da Rede Globo que é dominado pelos judeus Arnaldo Jabor, Luciano Huck, Tiago Leifert, Pedro Bial, William Waack, William Bonner, Mônica Waldvogel, Sandra Annenberg Wolf Maya, Daniel Filho e o poderoso Ali Kamel diretor chefe responsável e autor do livro Best seller o manual segregador (A Bíblia do racismo, que ironicamente tem por titulo NÃO SOMOS RACISTA baseado e num monte de inverdades e teses racistas contra os negros afro-decendentes brasileiros) e por Maurício Sherman Nisenbaum (que Grande Otelo, Jamelão e Luis Carlos da Vila chamavam o de racista) responsável dirige o humorístico Zorra Total Foi o responsável pela criação do programa e dos programas infantis apresentados por Xuxa e Angélica, apresentadoras descobertas e lançadas por ele. Isto esta ocorrendo em todo lugar do Brasil para nós não tem graça, esta desgraça de Humor, que humilha crianças é desumano para qualquer sexo, cor, raça, religião, nacionalidade etc. Cruéis o pior de tudo esta degradação racista constrangedora é patrocinada e apoiada por o Sr Ali KAMEL (marido da judia Patrícia Kogut jornalista do GLOBO que liderou dezenas de judeus artistas intelectuais e empresários dos 113 nomes (Contra as cotas raciais) com o Senador Demóstenes Torres que foi cassado por corrupção) o atual diretor responsável da CGJ, Central Globo de Jornalismo, da TV Globo, esta mesma que faz anuncio constante do programa CRIANÇA ESPERANÇA e comete o Genocídio racista e imoral contra a maior parte do povo brasileiro, é lamentável que os judeus se divirtam com humor e debochem do verdadeiro holocausto afro-indigena brasileiro, É LAMENTAVEL que o Judeu Sergio Groisman em seu Programa Altas Horas, assim como no Programa Encontro com a judia Fátima Bernardes riem e se divertem (a atriz judia Samantha Schmütz em papel de criança no apoteótico deste estereótipo desleal e perverso) para nós negros afros brasileiros a Rede GLOBO promove incentivo preconceito raciais que humilha e choca o povo brasileiro. Taryk Al Jamahiriya. Afro-indigena brasileira da ONNQ 20/11/1970 -REQBRA Revolução Quilombolivariana do Brasil QUILOMBONNQ@BOL.COM.BR

11:56 AM  
Blogger Jama Libya said...

O PROTESTO 1955 / 2O15. 60 ANOS do Poeta CARLOS DE ASSUMPÇÃO o mestre que completa 88 anos de muitos parabéns num sábado de muita luz 23 de maio glorioso que realça valoriza nossa luta a historia sempre viva do poeta guerreiro Cassump de Ébano como disse o herói poeta angolano Agostinho Neto.
CARLOS DE ASSUMPÇÃO seu nome esta realçado entre os maiores poetas do mundo e assim no Brasil nas principais obras da cultura afro brasileiro"A Mão Afro-Brasileira" Emanoel Araújo. “Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana” Nei Lopes. “Enciclopédia Quem é quem na negritude brasileira” Eduardo de Oliveira.Enciclopédia“África Mãe dos Gênios Negros Afros Brasileiros” Jorge J. Oliveira entre outras obras. Os Dizeres dos grandes mestres sobre Carlos Assumpção diz Abdias do Nascimento é o meu poeta, Solano Trindade Protesto é minha alma, Geraldo Filme me arrepia, Clovis Moura a lira de nossas revoltas, Barbosa sinto cada letra, Prof. Eduardo Oliveira minha inspiração, Luís Carlos da Vilaa alma da Kizomba,Tião Carreiro uma alegria triste, Milton Santos Diz tudo, Grande Otelo é o Poema Hino Nacional da luta da Consciência e Resistencia Negra Afro-brasileira.
CARLOS DE ASSUMPÇÃO – O maior poeta da militância negra da historia do Brasil autor do poema o PROTESTO Hino Nacional da luta da Consciência eResistencia Negra Afro-brasileira. O poetaAssumpção é o maior ícone das lideranças e dos movimentos negrose afros brasileiras e uma das maiores referencias do mundo dos ativistas e humanistasem celebração completa 88 anos de vida. CARLOS DE ASSUMPÇÃO nasceu 23 de maio de 1927 em Tiete - SP. Por graças e as benções de Olorum 88 anos de vida com sua família, amigos e nós da ORGANIZAÇÃO NEGRA NACIONAL QUILOMBO O. N. N. Q. FUNDADO 20/11/1970 (E diversas entidades e admiradores parabenizam o aniversario de 88 anos do mestre poeta negro Carlos Assumpção) temos a honra orgulho e satisfação de ligar para a histórica pessoa desejando felicidades, saúde e agradecer a Carlos de Assunpção pela sua obra gigante, em especial o poema escrito em 1955 o Protesto que para muitos é o maior e o mais significante poema dos afros brasileiros o Hino Nacional dos negros. “O Protesto” é o poema mais emblemático dos Afros Brasileiros e uns das América Negra, a escravidão em sua dor e as cicatrizes contemporâneas da inconsciência pragmática da alta sociedade permanente perversa no Poema “O Protesto” foi lançado 1958, na alegria do Brasil campeão de futebol, mas havia impropriedades e povo brasileiro era mal condicionado e hoje na Copa Mundial de Futebol no Brasil 2014 o poema “O Protesto” de Carlos de Assunpção está mais vivo com o povo na revolução para (Queda da Bas. Brasil.tilha) as manifestações reivindicatórias por justiça social econômica do povo brasileiro que desperta na reflexão do vivo protesto.
O mestre Milton Santos dizia os versos do Protesto e o discurso de Martin Luther King, Jr. em Washington, D.C., a capital dos Estados Unidos da América, em 28 de Agosto de 1963, após a Marcha para Washington. «I have a Dream» (Eu tenho um sonho) foram os dois maiores clamores pela liberdade, direitos, paz e justiça dos afros americanos. São centenas de jornalistas, críticos e intelectuais do Brasil e de todo mundo que elogia a (O Protesto) (Manifestação que é negra essência poderosa na transformação dos ideais do povo) obra enaltece com eloquência o divisor de águas inquestionável do racismo e cordialidade vigente do Brasil Mas a ditadura e o monopólio da mídia e manipulação das elites que dominam o Brasil censuram o poema Protesto de Carlos de Assunpção que é nosso protesto histórico e renasce e manifesta e congregam os negros e todos os oprimidos, injustiçados desta nação que faz a Copa do Mundo gastando bilhões para uma ilusão de um mês que poderá ser triste ou alegre para o povo brasileiro este mesmo que às vezes não tem ou economiza centavos para as necessidades básicas e até para sua sobrevivência e dos seus. No Brasil
.


Organização Negra Nacional Quilombo ONNQ 20/11/1970 –
quilombonnq@bol.com.br

2:38 PM  
Blogger Jama Libya said...


Poema. Protesto de Carlos de Assunpção

Mesmo que voltem as costas
Às minhas palavras de fogo
Não pararei de gritar
Não pararei
Não pararei de gritar

Senhores
Eu fui enviado ao mundo
Para protestar
Mentiras ouropéis nada
Nada me fará calar

Senhores
Atrás do muro da noite
Sem que ninguém o perceba
Muitos dos meus ancestrais
Já mortos há muito tempo
Reúnem-se em minha casa
E nos pomos a conversar
Sobre coisas amargas
Sobre grilhões e correntes
Que no passado eram visíveis
Sobre grilhões e correntes
Que no presente são invisíveis
Invisíveis mas existentes
Nos braços no pensamento
Nos passos nos sonhos na vida
De cada um dos que vivem
Juntos comigo enjeitados da Pátria

Senhores
O sangue dos meus avós
Que corre nas minhas veias
São gritos de rebeldia

Um dia talvez alguém perguntará
Comovido ante meu sofrimento
Quem é que esta gritando
Quem é que lamenta assim
Quem é

E eu responderei
Sou eu irmão
Irmão tu me desconheces
Sou eu aquele que se tornara
Vitima dos homens
Sou eu aquele que sendo homem
Foi vendido pelos homens
Em leilões em praça pública
Que foi vendido ou trocado
Como instrumento qualquer
Sou eu aquele que plantara
Os canaviais e cafezais
E os regou com suor e sangue
Aquele que sustentou
Sobre os ombros negros e fortes
O progresso do País
O que sofrera mil torturas
O que chorara inutilmente
O que dera tudo o que tinha
E hoje em dia não tem nada
Mas hoje grito não é
Pelo que já se passou
Que se passou é passado
Meu coração já perdoou
Hoje grito meu irmão
É porque depois de tudo
A justiça não chegou

Sou eu quem grita sou eu
O enganado no passado
Preterido no presente
Sou eu quem grita sou eu
Sou eu meu irmão aquele
Que viveu na prisão
Que trabalhou na prisão
Que sofreu na prisão
Para que fosse construído
O alicerce da nação
O alicerce da nação
Tem as pedras dos meus braços
Tem a cal das minhas lágrima
Por isso a nação é triste
É muito grande mas triste
É entre tanta gente triste
Irmão sou eu o mais triste

A minha história é contada
Com tintas de amargura
Um dia sob ovações e rosas de alegria
Jogaram-me de repente
Da prisão em que me achava
Para uma prisão mais ampla
Foi um cavalo de Tróia
A liberdade que me deram
Havia serpentes futuras
Sob o manto do entusiasmo
Um dia jogaram-me de repente
Como bagaços de cana
Como palhas de café
Como coisa imprestável
Que não servia mais pra nada
Um dia jogaram-me de repente
Nas sarjetas da rua do desamparo
Sob ovações e rosas de alegria

Sempre sonhara com a liberdade
Mas a liberdade que me deram
Foi mais ilusão que liberdade

Irmão sou eu quem grita
Eu tenho fortes razões
Irmão sou eu quem grita
Tenho mais necessidade
De gritar que de respirar
Mas irmão fica sabendo
Piedade não é o que eu quero
Piedade não me interessa
Os fracos pedem piedade
Eu quero coisa melhor
Eu não quero mais viver
No porão da sociedade
Não quero ser marginal
Quero entrar em toda parte
Quero ser bem recebido
Basta de humilhações
Minh'alma já está cansada
Eu quero o sol que é de todos
Ou alcanço tudo o que eu quero
Ou gritarei a noite inteira
Como gritam os vulcões
Como gritam os vendavais
Como grita o mar
E nem a morte terá força
Para me fazer calar.
Organização Negra Nacional Quilombo ONNQ 20/11/1970 –
quilombonnq@bol.com.br

2:39 PM  
Blogger Christian M. Fantin said...

Olá, como estão?
Deixo-lhe uma obra musical composta em homenagem a Zumbi e todos os que habitaram o Quilombo dos Palmares. É universalmente livre, pois eu dei para o domínio público.
Aqui está o link para o meu site onde se pode ouvir, baixar e compartilhar com aqueles que querem:
www.unirmusica.com/christianmfantin
Espero que este comentário seja do seu agrado e gostem deste humilde tributo.

Christian

6:56 PM  
Blogger Unknown said...

Eu achei muito ótimo

11:49 AM  

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